Pós Modernos
Gilberto Mendonça Teles
Entrar nalgum jardim, ser o que sabe
granular a romã ou qualquer fruta:
não desistir se o amor não cabe
na forma absoluta.
percorrer os espaços, na ruptura
da linha só visível quando eterna,
para gozar a estranha arquitetura
da coisa pós-moderna.
Também o cotidiano é velho e novo
e a ponta do prazer tem seus venenos:
é preciso tatear, no estilo ab ovo,
as curvas dos terrenos.
O importante é fingir os qüiproquós
e transformar o corpo em ready-made:
ser um pingüim descongelando os pós
do tempo na parede.
Mergulhado no tédio ou no intervalo,
sem a continuidade dos infernos,
o vício da poesia dói no calo
de tantos pós modernos:
o pó-de-mico e seu fuxico
o pó-de-traque e seu sotaque
o pó-de-goma e seu idioma
o pó-de-arroz e seu depois
o pó-do-pó e seu xodó
e além do estratagema
a droga do poema.
E sair do jardim, homem que trinca
a pele da palavra numa gruta
sabendo que a beleza mais longínqua
é sempre devoluta.
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